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O fim, o princípio e a escuta de Eduardo Coutinho, por Daniela Delias

Atualizado: 21 de nov. de 2022



Coutinho: - O que o senhor acha do mundo?

Chico Moisés: - E o que é o mundo?

...

Coutinho: - O senhor gostaria de dizer mais alguma coisa?

Zé de Sousa: - O cabra que diz tudo o que sabe fica é besta.

...

Coutinho: - A senhora não se preocupa com a morte?

Mariquinha: - E o senhor, não?

...


São João do Rio do Peixe, Sítio Araças, sertão da Paraíba, chão de mais ou menos 80 famílias. Da ausência de um roteiro, nasce uma escuta. Eduardo Coutinho - o diretor - e seus entrevistados têm idades semelhantes, e precisam se aproximar porque assim podem se ouvir melhor. E se aproximam. E falam, entre tantas coisas, sobre infância, fé, trabalho, lendas, amor, memórias, velhice e morte. A pergunta de um traz a pergunta do outro, afinal, como diz Chico Moisés, "Eu não sei, penso que sei. Será que sei?”.


O fim e o princípio (Eduardo Coutinho, 2005) é uma dessas coisas que me fazem pensar no lugar insuperável que a arte ocupa em relação ao que tento dizer em aula sobre "escuta". Digo insuperável porque me diz coisas que mesmo o mais competente e bem intencionado texto acadêmico muitas vezes não pode. Como diz Leocádio, um dos mais perguntadores no filme, “É tanta palavra escrita em vão. Palavra escrita em vão é palavra perdida”. O mesmo senhor que, em outro momento, perguntará ao entrevistador: "O senhor acha que crer em deus é uma ilusão? Reza é quase poesia". Não há como ser mais lindo. Tampouco sair de dentro do filme sem pensar que é mesmo um lugarzinho minúsculo esse que a gente alcança com os olhos e chama de mundo. Mas, como disse o Chico, no filme, o que é o mundo?




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