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Tão perto, tão longe: As crianças e o uso de tecnologias a partir da Covid-19



No início do ano de 2020, o mundo inteiro foi imerso em uma realidade não esperada e imediata: a pandemia de Covid-19. Nos encontramos em um cenário desconhecido, no qual pouco sabíamos sobre o tão temido vírus. Com isso, muitas mudanças na vida e na rotina das famílias foram impostas.

O isolamento social, com o afastamento dos ambientes escolares e de trabalho, o medo do vírus, o receio de transmiti-lo aos outros, a incerteza do futuro, as formas de lidar com a morte e a saudade dos que já tinham partido e daqueles que estávamos impossibilitados de ver são algumas das muitas emoções e situações vivenciadas dentro desse contexto, à época chamado “novo normal”. É possível pensar que muitas pessoas sentiram vazios, inseguranças e angústias. E as crianças, como viveram essa nova realidade?

A infância, em sua diversidade, representa espaços e tempos de desenvolvimento nos quais descobertas, aprendizados e novas habilidades emergem. Ao se desenvolverem, os pequenos constroem o seu jeito de sentir, pensar e estar no mundo. Vygotsky, um psicólogo que trouxe grandes contribuições para os estudos sobre a infância, afirmou que as interações sociais e culturais das crianças são fundamentais para o seu desenvolvimento. Assim, é muito importante que tenham momentos de interação com pessoas – da sua idade e mais velhas. Junto com o outro fica mais fácil usar a imaginação e a criatividade.

No contexto da pandemia, contudo, o quadro escolar virou uma tela de computador, os rostos próximos da família e amigos passaram a ser vistos em fotos e as conversas foram mediadas por microfones ou pelo chat da chamada de vídeo. As formas de aprendizagem se transformaram, e então alunos, colegas e professores passaram a se encontrar por meios digitais. Foi preciso se adaptar para que as relações e a aprendizagem não se perdessem: a relação das crianças com as tecnologias se transformou, e foi ficando cada vez mais difícil para os mais novos saírem da frente das telas, tanto para assistir a aulas, estudar, fazer pesquisas, trabalhos e provas, quanto para os momentos de lazer, brincadeiras, entretenimento e comunicação com as pessoas.

Observando estas mudanças e a aproximação das crianças a celulares, tablets e notebooks, podemos perceber pontos positivos e negativos, mesmo depois que a pandemia acabou. Dentre os pontos positivos, pesquisas têm indicado que o uso consciente dessas ferramentas, com regulação de tempo e controle do tipo de conteúdo que a criança tem acesso, não vai levar sozinho ao desaparecimento da infância e ao desaparecimento das brincadeiras mais comuns entre as crianças. O que muda, nesse processo, são as formas de brincar e de aprender, visto que a conexão com as redes pode ajudar as crianças a terem novas experiências e interações entre elas, seja no âmbito familiar, seja no contexto escolar.

Por outro lado, o uso excessivo das tecnologias e o acesso ilimitado à internet podem oferecer riscos para a saúde das crianças, como dificuldade de brincar e viver sem as telas, acesso a conteúdos inapropriados para a faixa etária, dificultar a socialização, desencadear problemas de aprendizagem, além de poder causar problemas de sono, alimentação e sedentarismo.

Na análise dos benefícios e prejuízos para o desenvolvimento infantil, é preciso também considerar que as telas foram entrando de mansinho, mas logo tomaram conta de tudo — do tempo, das conversas, da atenção. Só agora começamos a notar o quanto podem interferir no que é vivo e presente, como mostra a decisão de muitas escolas de deixarem os celulares de lado.

Para finalizar (ou começar?), reitero que os meios digitais podem ser uma ótima ferramenta, se usados com equilíbrio, manutenção e controle do uso. Porém, particularmente, compreendo que dificilmente substituirão as relações, afetos e brincadeiras presenciais. E você, o que pensa sobre o assunto?



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